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Atividade de redação

Apuração para redação de reportagem sobre mais
um recorde de recalls de automóveis, em 2018

As informações a seguir devem ser usadas para a escrita dos dois primeiros parágrafos de uma reportagem cujo objetivo é mostrar que 2018 foi mais um ano de aumento do número de recalls de automóveis no Brasil. E quem mais sai perdendo com a falta de qualidade dos  veículos são os motoristas.

O 1º parágrafo deve começar com o relato narrativo, em 3ª pessoa, de uma das histórias envolvendo pessoas acidentadas. Esse relato deve ser seguido do TÓPICO FRASAL (em 1 ou 2 períodos). E, antes de terminar o parágrafo, outros dados podem ser usados para reforçar o que é afirmado no tópico frasal.

O 2º parágrafo pode começar logo com o TÓPICO FRASAL, cuja questão devem ser as explicações para o crescimento das convocações dos donos de carros em praticamente todos os anos da última década. Use declarações de especialistas, mas deixe em discurso direto apenas os trechos mais importantes. Outros trechos que resolver usar coloque-os em discurso indireto, citando a fonte. Também use dados de veículos que passaram por recalls.

DADOS OFICIAIS

Histórico de recalls de veículos* no Brasil

Ano

Convocações

Número de veículos

2008

23

954,51 mil

2009

32

439,78 mil

2010

51

1,1 milhão

2011

34

595,42 mil

2012

35

335,15 mil

2013

58

656,95 mil

2014

61

1,11 milhão

2015

116

2,86 milhão

2016

122

1,66 milhão

2017

128

1,96 milhão

2018

137

2,17 milhão

* Inclui veículos de passeio e utilitários, motocicletas, caminhões e quadriciclos.
Fonte: Senacon/Ministério da Justiça

 

 

CASOS DE RECALL EM 2018

CASO 1 - Fiat Uno, Palio e Grand Siena (janeiro): problema no airbag – 13.384 unidades afetadas.
Modelos são equipados com airbags da empresa Takata. Falha no insuflador pode lançar fragmentos metálicos contra os passageiros.

CASO 2 - Ford Fusion (junho): problema no volante – 32.140 unidades afetadas.
Volante dos modelos 2014 a 2018 pode se soltar.

 

 

RELATOS DE ACIDENTES

. “No mês de novembro do ano passado, cheguei a um estacionamento da rua Pamplona (no bairro Conjunto Lagoa, em Belo Horizonte) para parar meu carro Honda Fit 2017, automático, com apenas 5000 km. Fui colocar o carro um pouco mais para frente. Repentinamente o carro acelerou como se o acelerador tivesse emperrado até o fundo e desceu em alta velocidade pelo estacionamento, apesar de todas as minhas tentativas de pará-lo, pisando no freio e puxando o freio de mão. O máximo que consegui fazer foi desviar de vários carros que estavam no caminho e ir até o fundo do estacionamento, onde bati no muro, atravessando-o e indo parar na outra rua, onde ainda atingi um carro estacionado no meio fio. Esse percurso foi de mais ou menos 150 metros em que o carro não obedeceu a nenhum comando, indo em alta velocidade em direção ao muro. Só estou viva por graça de Deus; o carro ficou em pé, e só não virou por cima do outro carro porque foi parado pelo impacto dos tijolos do muro e de um guard rail que havia acima do muro e que segurou a traseira do carro. Tenho absoluta certeza de que não fiz nada errado: dirijo há mais de 20 anos, sempre carros automáticos, aqui e fora do Brasil, onde morei, e tive outro Honda Fit automático antes desse por três anos.”

::: Marizilda Martins, 36 anos, bióloga.

 

. “Na ocasião, eu viajava para o interior do estado com a família e seguia, por volta do meio-dia, pelo km 93,5 da rodovia Castello Branco. Foi quando houve um fechamento entre dois carros e um deles bateu no meu Grand Siena. O meu carro foi empurrado contra a mureta e, na sequencia, o eixo traseiro se deslocou totalmente. O que eu estranhei é que quando se bate, quebra uma roda, quebra a campana ou sai a roda, mas não, saiu a roda com o sistema de freio e o eixo saiu com tudo. Fiquei sem o controle e o carro seguiu na direção de um barranco e rolou por quatro metros abaixo.”

::: Manoel Teixeira Mendes Filho, advogado, morador de Santo André, na Grande São Paulo. O acidente aconteceu no final de janeiro de 2018.

 

OPINIÕES DE ESPECIALISTAS

::: Marcos Morita, especialista em estratégias empresariais, mestre em Administração de Empresas e professor da Universidade Mackenzie (SP)
. “Diante do cenário de produção global iniciado nos anos 1980, grandes conglomerados, em busca de menores custos de produção e câmbios mais favoráveis, migraram grande parte de suas operações fabris para países em desenvolvimento. E com o ciclo de vida dos produtos cada vez mais curto, as empresas são compelidas a aumentar o ritmo de lançamentos. Muitas vezes as montadoras têm de laçar os produtos antes de estarem totalmente testados, com o medo de perderem mercado. Os carros então são construídos em escala mundial, compartilhando plataformas e componentes, visando economias de escala. O que poderia ser positivo, torna-se uma dor de cabeça global.”

 

::: Francisco Satkunas, diretor da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil)
. “A qualidade dos veículos é afetada por falhas no projeto, na especificação e no processo, matérias-primas defeituosas, transporte e logística inadequados.”

. “70% dos recalls se referem a componentes que as montadoras compram de terceiros, 20% a problemas na montagem e 10% a problemas de projeto e engenharia. Os fabricantes fazem a carroçaria, que não costuma ter recall, e compram peças de fornecedores, como pneus, vidros e amortecedores. Cada automóvel tem em média 3 mil a 4 mil peças. O fato de um carro ser global, contudo, não significa que um recall lá fora seja necessário para um mesmo modelo produzido no Brasil, pois os fornecedores podem ser diferentes."

 

ESTILOS DE PARÁGRAFO [REVISTA SEMANAL DE INFORMAÇÃO]

*** / RACIOCÍNIO INDUTIVO : do particular e específico para o geral / ***

UMA ESTRELA NO ALTAR

Jovem, bonito e carismático, o padre Marcelo Rossi atrai multidões e renova a Igreja Católica no país

Camila Françoso, 17 anos, pediu à amiga Renata de Palma que não se afastasse. A menina tinha medo do ex-namorado, Werick Júnior da Rocha, de 23 anos, que a chamava de dentro de um carro parado em uma rua movimentada do bairro do Limão, em São Paulo. Inútil providência. Renata não pôde fazer nada além de gritar ao ver Camila ser arrastada para dentro da Kombi, sob a mira de um revólver. Werick não se conformava com o fato de Camila ter desfeito o namoro havia um mês. A polícia foi avisada do seqüestro e passou a perseguir o carro. Ao notar que estava para ser preso, Werick, alucinado, deu três tiros à queima-roupa na ex-namorada e, em seguida, suicidou-se, com um disparo na cabeça. Dois dias depois, na última quinta-feira, devastada pela tragédia, a mãe de Camila, a dona de casa Maria de Fátima Balestro Françoso, 43 anos, disparou telefonemas para o outro lado da cidade, a uma hora de distância de carro de sua casa, para um padre que nunca tinha visto ao vivo. Buscava consolo espiritual. O alvo das esperanças da mulher era o padre Marcelo Rossi, 31 anos, o maior fenômeno do catolicismo brasileiro (TÓPICO FRASAL). “Acho que só o padre Marcelo pode tirar esse sufoco que estou sentindo no meu peito”, conta Maria de Fátima, ainda sob efeito de calmantes. Poucos minutos depois, outra mulher, parente de Werick, eram quem dia pedia socorro. Naquela mesma noite, a mãe da garota assassinada ainda foi até a região de Interlagos, na Zona Sul de São Paulo, assistir à missa celebrada pelo padre Marcelo Rossi para dezenas de milhares de pessoas. Concluído o ritual, ela tentou encontrá-lo pessoalmente. Não conseguiu. Ele já havia saído para fazer seu programa na Rádio América, de São Paulo, na qual é um dos líderes de audiência. Era apenas mais um dos vários compromissos que lotam a agenda do prelado, desde que se tornou a principal figura do movimento católico Renovação Carismática.

O lenitivo que as duas mulheres envolvidas na tragédia paulistana procuravam é o mesmo que milhões de pessoas estão buscando. Tudo o que cerca o padre Marcelo Rossi se conta por números seguidos de muitos zeros. Alguns exemplos: suas missas, no Santuário do Terço Bizantino, um galpão de 20 000 metros quadrados, antiga fábrica na Zona Sul de São Paulo, reúnem até 60 000 católicos. Por mês, os fiéis em frente ao altar somam meio milhão de almas. É gente em busca de cura para todos os males: câncer, depressão, desemprego. Quatro vezes por semana, eles chegam em caravanas de ônibus, a pé e até em carros caros. Espremem-se para ver de perto os louvores do padre Marcelo. Do ponto de vista formal, são missas impecáveis. A liturgia segue à risca as determinações do Concílio Vaticano II. Ritos iniciais, liturgia da palavra, liturgia eucarística, comunhão e ritos finais. Está tudo lá, pronto para passar pelo crivo do católico mais ferrenho. Mas quando o padre Marcelo Rossi irrompe no palco, quer dizer, no altar, sob aplausos e assobios da platéia, não é difícil perceber que se está diante de um evento diferente. Cada celebração é um megaespetáculo. São 15 000 hóstias distribuídas por missa. Na organização, trabalham 940 voluntários, quase sempre arregimentados entre fiéis da diocese de Santo Amaro. Diante da multidão, o padre Rossi é o rei da homilia. Canta, dança, prega de forma didática. Abusa das parábolas e dos diálogos com a platéia. Nada que lembre o ar sisudo de boa parte das missas convencionais.

(Veja, nº 44, edição 1571, 4 de novembro de 1998, pp. 114-120).

 

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A LÓGICA BRUTAL DO EXTERMÍNIO

Eles matam o jurado de morte e todos os que, por infelicidade, se encontram no local da execução

A luz vermelha se acendeu no semáforo. Embora fosse tarde da noite, o táxi freou. Levava três passageiros do trabalho para casa, na Zona Sul de São Paulo. Nesse momento, o Voyage roubado que o seguia a distância acelerou e deu uma pequena batida em sua traseira. O taxista desceu para verificar o estrago. Os dois ocupantes do Voyage também saíram, já empunhando suas armas. Dentro do táxi, os três passageiros nem sequer tiveram tempo de reagir. Odair Ferreira, 60 anos, seu filho Odai Tadeu, e Sérgio Nakano, 41, morreram na hora. O motorista fugiu correndo. Os matadores escaparam em duas motos que os apoiavam. Nunca foram descobertos. Durante dois anos, a polícia paulista investigou o assassinato, cometido no dia 24 de fevereiro de 1995, ouviu 25 pessoas e chegou a alguns prováveis suspeitos. Mas a apuração parou sem que ninguém fosse indiciado, e o processo foi arquivado como “crime de autoria desconhecida”. Para a polícia, Odair Ferreira teria morrido por problemas ligados a dívidas em seu pequeno supermercado na periferia de São Paulo. O filho Tadeu e o gerent do supermercado, Sérgio Nakano, foram assassinados porque estavam em sua companhia. Os matadores não queriam deixar testemunhas. Na Grande São Paulo, chacinas como essa se repetem em média cinco vezes por mês. Em geral envolvem três mortos, mas já houve casos com oito e até com doze vítimas fatais. Elas correspondem, em números absolutos, a perto de 3% dos assassinatos na região. Apesar de se tratar da minoria das ocorrências, as chacinas enquadram-se numa das modalidades mais comuns de homicídio na periferia: os crimes premeditados, com hora marcada para acontecer (TÓPICO FRASAL). Em 1984, o total de assassinatos foi de 3 500. No ano passado, já estava na casa das 8 500 mortes. Para a cadeia, vai uma ínfima minoria.

Ao contrário dos homicídios provocados por brigas em bar, desentendimentos amorosos, dívidas financeiras e outros motivos banais, os crimes premeditados são de difícil apuração. Quase nunca têm testemunhas. Quando têm, elas sentem-se intimidadas e silenciam. Por trás das chacinas, há criminosos contumazes, conhecidos e temidos em sua região, onde os moradores não ousam apontá-los nem ao melhor amigo, quanto mais à polícia. Isso ajuda a explicar por que a polícia, ao fim de investigações ineptas, classifica tais crimes como insolúveis.

(Veja, nº 36, edição 1614, 8 de setembro de 1999, pp. 44-53).

 


*** / RACIOCÍNIO DEDUTIVO : do geral para o particular e específico / ***

O relâmpago Popó

Em dois minutos de luta, o baiano Acelino Freitas torna-se campeão mundial de boxe

A entrada do baiano Acelino “Popó” Freitas no grande mundo do boxe foi como um furacão. Em menos de dois minutos, ele arrasou o russo Anatoli Alexandrov, que se interpunha entre ele e o título mundial dos superpenas. A luta aconteceu no sábado dia 7 em Le Cannet, na França. Em estado de pré-coma, Alexandrov, 32 anos e 35 vitórias anteriores, saiu do ringue carregado direto para o hospital e só recebeu alta no dia seguinte. Em estado de euforia, Popó embolsou um cheque de 50 000 dólares pela vitória — prêmio irrisório para os padrões do boxe internacional, mas o maior de sua carreira. E comemorou a volta do Brasil à lista dos países com campeões mundiais de boxe, depois de 24 anos. O pugilista baiano é apenas o terceiro brasileiro a ostentar o cinturão de campeão mundial.

Na tarde de terça-feira, Popó foi recebido em Salvador por 1 500 pessoas, com desfile no carro de bombeiros e trio elétrico. Uma banda seguiu o cortejo executando o “melô do Popó” acompanhada pelos fãs com a “dança do nocaute”. Popó apareceu em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros vestido com bermuda, luvas de boxe e roupão verde, amarelo e branco de lantejoulas, o mesmo uniforme que usou na luta da vitória. “Já esperava uma recepção calorosa”, disse ele. “Mesmo assim, fiquei surpreso.”

(Veja, nº 33, edição 1611, 18 de agosto de 1999, pp. 72-3).