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"Trata-se de sentimentos desagradáveis, com certeza, dos quais qualquer pessoa pode facilmente desembaraçar-se, porque ninguém sabe até onde vão suas forças, uma vez que ainda não as submeteu à prova.” O relato é parte da carta de um jovem do século XIX, Werther, na qual narra sua desilusão amorosa, devido a não ser correspondido por Charlotte, que tinha sido prometida em casamento a outro homem. Como achava que a vida tinha perdido o sentido, Werther atenta contra a própria vida, com uma pistola. A citação é parte do romance epistolar “Os sofrimentos do jovem Werther”, publicado pelo escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe em 1774. A narrativa apresenta tom tão realístico que passou a ter cunho perturbador, com registros de suicídios de jovens na Europa, após a publicação, que apresentavam as mesmas características da do protagonista da obra. Por tratar de questões de cunhos depressivo e passional, o romance gerou identificação nos leitores que sofriam com os mesmos problemas, mas não reportavam ou falavam a respeito, devido ao tabu social. A obra, inauguradora do romantismo, passou então a ser banida em vários países europeus, inclusive sob uma campanha condenatória da Igreja Católica. A partir do fenômeno, mesmo que não tenha sido comprovada a relação entre o livro e as mortes, o sociólogo David Phillips sugeriu em 1974 o termo “Efeito Werther”, ou efeito de imitação.
Por ano, atualmente, 800 mil pessoas cometem suicídio no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja, a cada 40 segundos uma pessoa põe fim à própria vida deliberadamente. No Brasil, são 32 casos por dia, ou 1 a cada 45 minutos, o que coloca o país na oitava posição entre os países com maior número de mortes por esta causa. De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), o número de suicídios no país aumentou 12% entre 2011 e 2015. No primeiro ano há registros de 10.490 mortes, enquanto em 2015 o número chegou a 11.736. O suicídio está muito relacionado aos transtornos psiquiátricos, como a depressão, o transtorno bipolar, a esquizofrenia e o transtorno de personalidade. As doenças mentais foram por tanto tempo tão renegadas que a própria pessoa não nota que pode estar desenvolvendo alguma delas. Elas chegam devagar e aos poucos vão tomando conta. “Esses quadros, como a depressão, costumam levar a um sofrimento muito grande dessas pessoas. A depressão pode ser tratada por medicação e terapia, e a tendência é que ela tenha alta. Mas pode ser que ocorra uma recaída, e tenha outro episódio”, afirma Paula Rui Ventura, professora associada do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em entrevista antes de começar a sua aula para jovens futuros psicólogos. “O que acontece é que, quando a pessoa tem um transtorno desse tipo, a tendência é que esse seja o ponto fraco dela; cada um tem um ponto fraco. Um tem alergia, um tem diabetes, um tem depressão, o outro, transtorno de ansiedade, e se a pessoa tiver um momento mais estressante o quadro pode voltar.”
Contudo, não são todos casos de suicídio que apresentam um desses transtornos. “Quando a gente trabalha com alguém com risco de suicídio, a gente avalia desde a ideação suicida, a vontade de não estar mais aqui, sem planejamento e sem fazer nada objetivamente, até começar a pensar a fazer algo mais concreto”, relata a psicóloga. Graduada em 1990 pela UFRJ, Paula tem experiência com terapia cognitivo-comportamental e neurociência. Para uma pessoa próxima de alguém que tem ideações suicidas ou já tentou se matar pode ser muito difícil perceber o problema sozinho. O isolamento social, as queixas constantes e a falta de esperança na vida são sinais de riscos comuns, que podem ajudar a identificar se alguém precisa de ajuda. “Quem se mata dá sinais antes, que não foram captados pelos amigos ou familiares, ou que o médico não percebeu. Na correria e nos problemas corriqueiros do dia a dia, esses sinais passam despercebidos para aqueles que, muitas vezes, convivem com eles”, atesta Paula, cujo doutorado fez em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biofísica também da UFRJ.

Fonte: Ministério da Saúde
O reconhecimento precoce dos comportamentos de risco é muito importante para a prevenção. Uma estimativa da OMS afirma que 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos. Uma das ações mais importante é a informação que chega à sociedade. Quando alguém sabe identificar que um amigo, irmão ou primo quer se matar, ou fala que já pensou, é preciso agir de forma cautelosa, não julgar e saber ouvir. As redes sociais também são meios que podem indicar sinais importantes. Falar abertamente sobre esse problema é um ponto importante para a diminuição das taxas de suicídio. “O silêncio, a vergonha, o preconceito e o estigma só atrapalham aqueles que precisam ser ouvidos e acolhidos pela sociedade. Por meio da mídia, as pessoas têm uma noção do que são os transtornos mentais. A pessoa percebe que não é só ela e que existem outras pessoas que têm casos semelhantes, e isso é super importante”, observa a psicóloga.
Em uma sociedade complexa, enxergar oportunidades pode ser um grande começo para discutir assuntos que ficam à margem do debate público e político. O suicídio é um deles. Hoje, o número de debates aumentou. O apelo social, devido às mídias tradicionais ou digitais, propiciou a vários grupos começar a debater a ameaça, para a família, do sofrimento que jovens e pessoas de outras faixas etárias estão passando. O suicídio é um problema multidimensional, que envolve a responsabilidade social e política e deve ser tomada como questão de saúde pública. “Trabalhar a prevenção do suicídio e a intervenção envolve muitos braços, porque requer uma conscientização, que é uma educação para prevenir”, alerta Dayse Assunção Miranda, doutora em Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção (GEPeSP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), iniciado em 2013. “A prevenção deve ser trabalhada do nível micro ao macro. As famílias, que são a rede de apoio, os médicos, as redes de saúde, e, no caso do jovem, a escola também precisa estar preparada.”

As dificuldades de lidar com o suicídio preocupam a Coordenadora do GEPeSP-UERJ Dayse Miranda / Foto: Diego Klein
• Subnotificação
Todavia, existe uma questão importante e que diz respeito ao grau de qualidade de informações sobre o suicídio no país: os dados. No Brasil, desde 2011 tornou-se obrigatória a notificação de casos de tentativas de suicídio. Dayse, porém, alerta para um problema que ainda é um empecilho para a mensuração mais efetiva dos casos no país, que são as subnotificações. “No Brasil não temos um sistema de notificação confiável. Para melhorarmos nossas políticas públicas, precisamos começar desde a coleta eficiente de dados, à comunicação de informação de qualidade.” O preconceito em torno do suicídio também é uma das razões para a grande taxa de subnotificações. O medo e a vergonha de serem estigmatizadas por amigos e familiares fazem com que muitas famílias não notifiquem ou indiquem causa indeterminada. Nas classes sociais mais altas também estão envolvidas questões relacionados a seguros de vida e diagnósticos feitos por médicos da família. Nas classes mais baixas, a captação dos corpos é feita pelo Instituto Médico Legal (IML), que, nos casos de suicídios, classifica-os como mortes violentas.
Entrevista com Dayse Miranda, coordenadora do GEPeSP / Vídeo: Diego Klein
A diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis e Promoção da Saúde (DANTPS), órgão do Ministério da Saúde, Fátima Marinho, aponta que, em 2015, das 1,2 milhão de mortes, 17% tiveram causa externa, ou seja, 204 mil óbitos por fatores não-naturais. Desse número, 40% são registradas sem a devida determinação da causa. “Ainda tem 6% de mortes que ainda não conseguimos chegar à causa. São cerca de 10 mil mortes que foram por causa externa, violenta, mas não sabemos por quê. Por isso temos esse subdiagnóstico do suicídio”, complementou a especialista, entrevistada pela Agência Brasil em setembro de 2017. O Brasil tem como meta reduzir o número de suicídios em 10% até 2020 e faz parte da agenda estratégica do Ministério da Saúde.
O problema vai além dos registros oficiais. O suicídio ainda é um tabu, principalmente por causa da ideia propagada do efeito de imitação. As origens do tema acompanham a história. Há séculos, o suicídio era considerado uma questão religiosa ou filosófica. A Igreja Católica condenava veemente, não permitindo que o corpo fosse enterrado em terras santas. Em 1897 Émile Durkheim publicou o primeiro estudo mais detalhado e aprofundado sobre o assunto, no livro “O suicídio”. E muitos anos de estudo foram dedicados ao tema logo depois da obra do sociólogo francês, segundo Pablo Nunes, pesquisador GEPeSP, da UERJ, inclusive sobre o papel dos meios de comunicação. “Principalmente na década de (19)70, onde voltaram as preocupações entre as relações de suicídio e mídia, a gente tem uma convergência do resultado de pesquisas empíricas para a conclusão de que a mídia pode influenciar nas taxas de suicídio de um país, estado ou cidade”, informa Nunes. Um caso emblemático foi o ocorrido em Viena, na década de 1980. Após uma cobertura sensacionalista de um incidente que aconteceu no metrô da capital austríaca, foram registradas 22 mortes em 18 meses. A Prefeitura da cidade tomou ações para melhorar a cobertura de suicídios, como a indicação de um manual, produzido pela Associação Austríaca para a Prevenção do Suicídio, sobre como profissionais deveriam abordar o assunto. Como resultado, houve uma queda drástica dos incidentes.
• Cobertura jornalística responsável
Para Nunes, as pessoas que se preocupam com o tema querem que ele seja debatido na imprensa, mas que seja abordado de forma consciente e responsável. “Existem diversas regras que são simples e que podem causar efeitos muito benéficos para a cobertura, já que não causam efeito imitação.” Ao optar simplesmente por não noticiar, diz o pesquisador, o tabu em torno do assunto é cada vez mais reforçado. Por isso, ele acha que os veículos devem ter cuidado com o foco dado às notícias que publicam, já que podem ocasionar um aumento no número de casos de suicídio ou, ao contrário, podem ajudar as pessoas que se encontram sob risco de suicídio ou enlutadas. Para a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), da OMS, a cobertura responsável pelos meios de comunicação é um dos principais pontos de prevenção e controle.
Para ajudar a imprensa a lidar com o tema, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) publicou um manual dirigido a veículos de comunicação, disponível no site da entidade. A OMS também possui um manual específico para profissionais de mídia, assim como o Centro de Valorização à Vida (CVV) – www.cvv.org.br. “Os desafios que a mídia precisa enfrentar são pequenos, não vejo grandes dificuldades na mudança de cobertura. O suicídio ficou muito em destaque nos meios de comunicação esse ano, tanto pelo fenômeno da Baleia Azul, quanto da série 13 Reasons Why (13 Porquês, série da Netflix que aborda o suicídio de uma adolescente), e a gente percebeu que não é impossível fazer uma cobertura responsável. A cobertura dos grandes meios foi muito certeira.” O jogo online Baleia Azul teria surgido na Rússia em 2015. Através dele, os participantes eram levados a se auto-mutilarem e, ao fim do cumprimento dos desafios, deveriam se suicidar.
Campanha do CVV com o Facebook incentiva as pessoas a reconhecerem os sinais de risco do suicídio / Fonte: CVV
A internet e as redes sociais, com sua rápida reprodutibilidade, também são um desafio. O Comunica Que Muda (CQM), iniciativa digital da agência de publicidade nova/sb, realizou uma pesquisa nas principais redes sociais, onde foram capturadas 1.230.197 menções ao termo “suicídio” entre abril e maio de 2017, o ápice de buscas no Google dos últimos cinco anos. Os principais tópicos abordavam a Baleia Azul e a série 13 Reasons Why. Existe uma correlação entre o volume de pesquisas de suicídios e formas de cometê-lo com as taxas de suicídios. A internet pode ser usada como um canal de apoio e divulgação de campanhas de prevenção, mas também consegue ser um ambiente de espetacularização e encorajamento do suicídio. A morte do adolescente Vinícius Gageiro Marques, em 2006, virou notícia no Brasil por causa de transmissão que ele fez com sua câmera do computador. O jovem de 16 anos, cujo pseudônimo era Yoñlu, estava em internação domiciliar por sugestão de seu psicanalista. Quando decidiu tirar a própria vida na frente da câmera, alguns internautas lhe pediram para parar; outros, entretanto, o encorajaram a ir em frente. “As redes sociais são um fenômeno muito complexo. Recentemente o jornal inglês The Guardian vazou algumas normas que o Facebook utiliza nesses casos, e uma delas foi a orientação dos censores da plataforma para não retirar pessoas que estavam cometendo suicídio e transmitindo pela rede social. A gente sabe que tem um impacto, mas não sabe ainda qual é, já que essa rede social é pouco transparente aos dados produzidos”, diz Nunes. No entanto, “além de olhar pelo viés negativo, a internet e as redes sociais têm um grande potencial para fornecer dados e tendências para nos adiantar informações úteis para prevenção”, acrescenta.
• Saúde mental de estudantes nas universidades
“Eles falam da vida. Eles choram. Copiosamente.” É assim que a psicoterapeuta Karla Valviesse, supervisora clínica da Divisão de Psicologia Aplicada (DPA) do Instituto de Psicologia da UFRJ, descreveu o estado dos alunos da maior universidade pública federal do país quando chegam ao programa para receber apoio psicológico. Dados da OMS de 2014 apontam que o suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Bullying, preconceito, difamação em redes sociais, pressão na escola ou na faculdade, problemas familiares e amorosos são alguns fatores que colaboram para o desenvolvimento de transtornos mentais e, no pior dos casos, para a ideação suicida. O projeto psicossocial oferecido aos estudantes da UFRJ é o “Vem pra roda”. Nele, as terapias são feitas em grupos de cerca de 10 pessoas, sob supervisão de dois estagiários do curso de Psicologia da própria instituição. Atualmente a Superintendência Geral de Políticas Estudantis (SuperEst), órgão responsável por dar assistência e criar políticas que auxiliem na permanência dos estudantes na universidade, disponibiliza 70 vagas para o projeto.
Com o aumento dos casos de depressão e ansiedade, algumas universidades têm apostado em programas de prevenção e auxílio à saúde mental de jovens que estão no ensino superior Na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, são disponibilizados serviços de escuta terapêutica, entre outros programas gratuitos destinados a alunos que procuram por terapias individuais. Segundo a psicóloga Nathalia Lacerda, diretora da Divisão de Atenção à Saúde dos Estudantes (DASE) da UFF, o programa conta com quatro psicólogos, sendo ela e outros três profissionais da área de psicologia. Ela ressalta que está previsto, até o final de 2017, superar o número de atendimento do ano anterior. “A universidade prega metas impossíveis em muitos casos, com a romantização de um esforço sem limites, que, para se alcançar um objetivo, deve-se abrir mão da vida social, família e sono, além da óbvia competição entre colegas de curso”, disse Vinícius Ribeiro, 25, aluno de Biblioteconomia e Documentação da UFF. Ele buscou auxílio, pois estava insatisfeito com o curso e também vinha enfrentando obstáculos que o faziam se sentir incapaz. Relatos como o de Vinícius são frequentes dentro das universidades. Valviesse fala que os alunos chegam na roda de terapia com os mais variados problemas, desde questões relacionadas à própria universidade, por estarem no mesmo ambiente e compartilharem experiências, até problemas como falta de moradia e o desgaste de morar longe da universidade. “Não somos a solução para os problemas deles. O que tentamos é fazer ser vida, a vida desses jovens que têm problemas reais”, comentou.
• Onde procurar ajuda?
Segundo o Ministério da Saúde, a existência de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no município do Rio reduz em 14% o risco de suicídio. Todavia, os especialistas dizem que é preciso uma melhor distribuição desses centros, principalmente nas áreas com maior incidência de suicídios. O Brasil tem 5.570 municípios e apenas 2.463 CAPS em funcionamento. Resta a algumas pessoas as iniciativas de organizações não-governamentais, como o Centro de Valorização a Vida (CVV), uma das instituições mais importantes na luta contra a depressão e o suicídio. Fundada em São Paulo em 1962, é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de utilidade pública federal em 1973. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Norma Moreira, coordenadora do projeto, explica como é feito o trabalho: “Funcionamos 24 horas, todos os dias do ano. Mantemos sigilo da conversa da pessoa que entra em contato com o CVV e o anonimato, ou seja, se ela não quiser identificar-se, não precisa. Atendemos pelo telefone 188, chat, e-mail, Skype, presencial no horário comercial e até por cartas para os que não têm recursos eletrônicos, como presidiários por exemplo”.
Qualquer pessoa acima de 18 anos e com disponibilidade de tempo, comprometimento e um treinamento mínimo de nove semanas pode se candidatar a uma vaga de voluntário no CVV. A ideia inicial é que o voluntário dedique, no mínimo, quatro horas semanais em horários fixos e pré-determinados. O curso preparatório é gratuito e feito pelos próprios voluntários do posto de atendimento. Em tempos de redes sociais, onde as pessoas compartilham experiências, um novo desafio se apresentou para quem trabalha com a questão. O suicídio tem sido publicizado e às vezes até encorajado por grupos no Facebook. Para tentar evitar esse novo problema, o CVV e a rede social fizeram uma parceria, como conta Norma: “Qualquer pessoa que constate uma postagem com sinais de intenção suicida ou mutilação pode denunciar a postagem seguindo o passo a passo, onde o Facebook vai avaliar esta postagem em que o autor recebe notificação com uma listagem de instituições de ajuda, e uma delas é o CVV. E a pessoa não fica sabendo quem denunciou”.
Já na parceria entre CVV, Facebook e SaferNet Brasil (associação para promoção e defesa dos direitos humanos), o objetivo é que sejam denunciados casos de apologia e incitação a crimes, de bullying, homofobia, pornografia infantil, racismo, intolerância religiosa, violência contra animais, idosos, mulher, crianças, tráfico de pessoas e outros. Há também organizações de cunho voluntário com capacitação para acolhimento dessas pessoas, como a Biacolhe, idealizado pelas irmãs Rogéria Vieira e Regina Magalhães. “O grupo começou por causa de uma experiência. Minha filha, Beatriz, cometeu suicídio em outubro de 2016. A partir daí, como ela era filha única, parece que a vida fica meio sem sentido”, contou Rogéria. “Eu via as angústias que ela tinha quando saía daquele quadro de depressão e transtorno bipolar. Às vezes ela ficava três meses trancada dentro de casa, entrava em movimento compulsivo, engordava e, quando saía daquele movimento e queria se mostrar pra vida, ela se sentia fora do padrão de beleza que a sociedade colocava.” A Biacolhe desenvolve diversos tipos de atividades lúdicas e terapias alternativas, como a arteterapia, com a intenção de acolher o próximo, entendendo que falar é a melhor solução. “Eu acordei no dia seguinte e minha vontade era ficar enterrada na cama, mas percebi que não podia me render ao risco de entrar em um processo depressivo também. Assim eu tive a ideia de criar a organização e fazer um trabalho voltado a atender as pessoas que sofrem com essas questões para que, na hora que quiserem estabelecer contato com a sociedade, a gente esteja próximo para oferecer passeios, filmes, piqueniques, saraus, entre outras atividades de acolhimento”, contou Rogéria.

Após experiência na família as irmães Regina Magalhães e Rogéria Vieira idealizaram o projeto Biacolhe / Foto: Diego Klein
Em março, o grupo realizou o I Encontro Biacolhe de Música e Poesia e, em julho, organizaram um sarau. “Foi bem harmonioso porque o público ficou entusiasmado com a recitação de poesias, com as pessoas cantando, as pessoas com as suas necessidades emocionais gostaram muito. Elogiaram bastante”, disse Regina. Já em setembro, realizaram o I Seminário de Valorização à Vida, no qual abordaram assuntos como drogas e suicídio, depressão, CVV e Setembro Amarelo. Em dezembro, encenaram peças teatrais especial de Natal, sempre abordando a temática de forma empática e consciente. O grupo conta com cerca de 15 voluntários e passou por um treinamento de quatro meses com o CVV para capacitação, já que, para a fundadora, tratar o tema é delicado. Assim como o CVV, a organização também realiza atendimento por telefone. “Um dia fiquei até quase 2 da manhã atendendo uma moça que estava em crise, na varanda, um pouco alcoolizada, pensando em se jogar. Fiquei mais de 3 horas conversando com ela, pedia para ela entrar para casa, falava que queria ouvir ela passando a chave, a porta fechando.” E acrescenta: “É desgastante, você tem que ter um cuidado com o que vai falar. Existe muito, além do emocional, essa noção com as palavras, porque qualquer deslize que você cometer pode ser um gatilho”.
Nas cartilhas distribuídas pela organização e pelo CVV pede-se que seja data atenção aos sinais que pessoas que pensam em suicídio podem deixar. “Uma questão que o CVV e o Biacolhe colocam é que as pessoas próximas consigam observar, perceber e entender os sinais”, afirma Regina. E, mesmo assim, observar os sinais pode ser uma tarefa complicada. “Apesar da minha formação como psicóloga e apesar de estar lidando com o assunto por quase 12 anos com a minha filha, perceber os sinais de suicídio às vezes se torna muito complicado”, contou Rogéria. “Biacolhe pode ter muitos significados. Bia vem do nome da minha filha e, também, carregamos o significado de benevolência, indulgência e amor. Como eu a chamava muito de bi, que é parecido com bee de abelha, por isso o símbolo das abelhas”, disse Rogéria. “A questão da polinização, isso de você trazer vida, então tem todo um significado”, acrescenta Regina.

Fonte: Ministério da Saúde

Fonte: Ministério da Saúde
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