M auricio Carneiro, ou Saddam, radialista, produtor e DJ, é o autor de “Calça da Gang”, sucesso dos anos 1990. Mesmo assim, ele reclama de não ter sido remunerado de acordo com as execuções do funk em rádios e boates de todo o país. E a fonte de seu incômodo é o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), órgão responsável pelo recolhimento dos direitos autorais de músicas e por repassá-los aos artistas. Com mais de 20 anos de carreira, o DJ segue na luta, com um programa semanal na rádio dedicado ao hip-hop e fazendo festas e eventos pelo Brasil - inclusive, é responsável por um baile na zona Sul do Rio. A seguir, ele conta sua experiência, nada boa, com o Ecad.

 


DJ Saddam se tornou uma das referências do hip-hop na noite carioca e comanda
um programa de rádio na Transamerica aos sábados (Foto: Arquivo Pessoal)

 

• Como você entrou no funk?

Eu tocava em uma boate na Gávea e sempre via com meus amigos as mulheres usando a, chamada na época, calça da Gang, que, como a propaganda dizia, deixava a bunda em pé. Na época, a calça custava 200 reais e, com essas informações, acabei fazendo o funk “Calça da Gang, toda mulher quer. 200 reais pra deixar a bunda em pé”. Somente essa frase com essa batida virou um sucesso naquele verão (dos anos 1990).

• Essa música foi seu único sucesso, um one hit wonder. Lá fora, artistas como Vanilla Ice, MC Hammer, Suzanne Vega e Ricky Astley também ficaram conhecidos como “artistas de uma música só”, mas ficaram ricos. O que essa música rendeu a você?

Foram feitas quase 200 montagens como essa música. Só oficiais, eu lancei 7 discos. Até o Tchan regravou essa música. Diferente lá de fora, eu só recebo uma merreca do Ecad trimestralmente, algo em torno de R$ 700. Não dá pra viver só com uma música de funk no Brasil. Eu tenho um outro disco, de hip-hop, que eu lancei uma música chamada “VIP” que rendeu muito mais em dinheiro do que “Calça da Gang”. Mas praticamente ninguém conhece. Quando eu gravei a música, eu pensei que conseguiria comprar até um apartamento com o dinheiro do Ecad, mas quando recebi o primeiro cheque, foi uma decepção: R$ 157.

• Qual foi a explicação que o Ecad deu para isso?

Eles alegaram que a música não tocou tanto assim nas rádios. A medição do Ecad é muito ruim. Na época, se baseava pelas paradas de sucesso das rádios e televisão. “Calça da Gang” não tinha tanta reprodução nas rádios, mas ela era tocada em tudo quanto é lugar, até em enterro. O Ecad cobra uma taxa de qualquer lugar que esteja com uma música tocando, mas não faz a separação correta para qual artista está tocando. Em 20 anos de carreira como DJ, com quase 2 mil sets, acho que só preenchi umas 20 relações de músicas para o Ecad. É por essas listas que eles fazem os pagamentos.