Entre uma pickup e outra, Tamyres Reis entretém o público jovem da roda do viaduto Negrão de Lima, em Madureira, na zona Norte. Aos 28 anos, ela relembra com semblante sereno e de gestos contidos, adquiridos com longos anos na cena hip hop, os primeiros passos no movimento e afirma ser fiel ao antigo pensamento do movimento cultural. “O hip hop é uma filosofia. Não é só uma cultura ou modinha, ele direciona as pessoas; aquela filosofia de Afrika Bambaataa de ‘Não às drogas, vamos ser sociais, vamos respeitar e amar todo mundo’. A galera jovem de hoje em dia gosta, mas não sabe o que é. Nesse ponto eu sou old, sou bem antiquada e acredito nisso”, disse. O casaco do time americano de basquete Los Angeles Lakers, a saia preta e a meia calça meio rasgada são partes da indumentária que Tamy diz gostar de vestir.

A cultura do hip hop não é machista, mas infelizmente quem produz é

Desde adolescente já militava e se envolvia com cultura. Somente aos 18 anos criou coragem, deixou o cabelo black power crescer e começou a carreira como DJ. Atualmente faz sucesso no segmento, sendo uma das mais requisitadas para trabalhar em grandes eventos, como casamentos e festivais de música. “Hoje é muito difícil eu ir a rodas, estou sempre trabalhando. Vou uma vez por mês. Agora toco mais em boates e faço eventos corporativos também”, completou. Para a DJ, o movimento hip hop não mudou, continua o mesmo. A diferença, segundo ela, é a vertente mais conhecida dentro do gênero, o rap. Em sua opinião, este agora é mainstream – termo inglês que expressa uma tendência ou moda dominante –, tornou-se a mais popular dentre as manifestações do movimento, tocando em rádios e com novas melodias.

 

Desde 2007, Tamy Reis se apresenta em bares e rodas culturais
Desde 2007, Tamy Reis se apresenta em bares e rodas culturais / Foto: Reprodução Facebook

 

Convicta defensora da cena, Tamy fala sobre os desafios de ser uma mulher atuante dentro de uma cultura predominantemente masculina. Mas ela afirma que o cenário tem mudado e a diversidade é uma conquista da qual tem orgulho. “A cultura do hip hop não é machista, mas infelizmente quem produz é. Nós, mulheres, estamos nos organizando e reivindicando nosso espaço, fazendo barulho e participando. A representatividade hoje de ‘minas’, principalmente no break, é muito grande”, analisa. Tamy acredita que, no futuro, o movimento será mais feminino, quase uma religião.